Não
te enganes, não há trabalho aflitivo como o de ser poeta.
Este
ato de alinhar catástrofes,
lapidar
a linguagem e a vida,
edificá-las
no alicerce das emoções?
Não.
Isso
se tira nas letras.
Estuda,
pesa, cava, guarda, testa...
Nunca
te disseram que o poeta é um bicho intelectualíssimo?
Martírio,
até agora, não há.
Pois
bem, aqui o tens: a pena do poeta é a inconstância.
Este
agora espero, agora desconfio, agora desvario, agora acerto,
que
bem antes de Camões se sentia e o faz feito máscara grega.
Uma
simples resposta que se demora,
de
uma pergunta sem lá muita importância,
fá-lo
preferir a morte ao tormento da espera.
Nunca
te disseram que o poeta é um bicho intelectualíssimo que se alimenta de
paixões?
Mas
a morte não vem.
Morrer
assim? No tempo e na carne?
Não.
Suicida-se
parcialmente em copos e cigarros e versos.
Até
que a resposta venha.
E
põe-lhe o sorriso no rosto.
Até
que outra pergunta seja feita.
Nunca
te disseram que o poeta é um bicho intelectualíssimo que se alimenta de paixões
e de covardia?
Ao
encontrar um destes espécimes, indaguei:
“Se
há tanto mal nisso, por que não trocar o ofício?”
Para
o meu espanto, riu-se:
“Que
nada! Desce mais um amor enquanto compro mais cigarros”.
É
que nunca me disseram que o poeta é um bicho intelectualíssimo que se alimenta
de paixões, de covardia e da ruína de si mesmo.